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COMO POUPAR?

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No meu primeiro artigo, elenquei três desafios ao assumir este compromisso com a Mirador: a pauta, apresentada de forma original, e com periodicidade. Falhei no último, não consegui manter a disciplina semanal, ainda que tivesse ideias sobre o que escrever. Mas este exato momento de produção textual é um grande divã, e resolvi só agora, durante este parágrafo, interpretar este mês de interrupção como uma pausa revigorante, o impulso para uma segunda fase, e não simples procrastinação e improdutividade.

Me impus a meta de escrever e finalizar esta pequena séria de perguntas, e o gancho que me ocorreu utilizar é sobre como se consegue poupar. O que faz com que a formiga consiga resistir aos encantos da vida a que a cigarra se entrega tão facilmente. Carpe diem quam minimum credula postero. Mas não quero ser lido por formigas, ou melhor, quero entender melhor as cigarras com as cigarras. E me preparar para uma conversa desarmada, convidando-as para um café – amanhã, hoje não consigo.

Já não me recordo mais como me deparei com a figura de Frank Ramsay, um filósofo, economista e matemático. Acredito que tenha sido com a leitura de um artigo sobre a vida e obra dele na New Yorker, que recomendo. Um personagem interessantíssimo, uma mente brilhante que partiu com apenas 26 anos de idade. E um ponto em específico chamou minha atenção, a sua amizade com Keynes, em que pese a grande diferença de idade entre ambos.

Daí foi um pulo até o artigo A Mathematical Theory of Saving, de 1928. E me arrisquei a ler uma teoria matemática sobre a poupança, do alto da minha formação completamente baseada nas ciências humanas. Sem qualquer inclinação pelas exatas, minha compreensão se limitou a pinçar gramaticalmente alguns trechos do texto, que trago aqui em livre tradução minha.

Ramsay se propõe a responder o quanto uma nação deve poupar, ou seja, sua análise é coletiva. E se não estou interpretando-o equivocadamente, ele defende que o nível de poupança está atrelado ao enjoyment – prazer, desfrute, deleite, aproveitamento: a taxa de poupança multiplicada pela utilidade marginal do dinheiro deve sempre ser igual à quantia pela qual a taxa líquida total de prazer da utilidade que fica aquém da taxa máxima possível de prazer.

Aumentando o capital, aumenta o prazer. Mas não necessariamente de forma infinita, já que o acréscimo de renda pode não gerar o equivalente em prazer, de modo que a felicidade não é uma função direta do capital. Podemos então dizer que o esforço por mais capital do que o necessário para custear o prazer almejado já obtido é desperdício?

Ao mesmo tempo, quanto mais pouparmos, mais cedo alcançaremos um estágio de satisfação geral estabilizado, mas o esforço de acumulação implica em menores taxas de prazer durante este período de esforço financeiro. Mas então é possível mensurar o custo de uma determinada taxa de prazer mínima durante o período de formação de poupança?

Ramsey chega a incluir em sua teoria a importância dos juros para se atingir mais facilmente o nível de prazer almejado. E como sua teoria não é microeconômica, o equilíbrio do sistema é alcançado por uma divisão da sociedade em duas classes, os econômicos que desfrutam da felicidade e os imprevidentes que se mantêm no nível de subsistência. E talvez seja possível replicar este raciocínio interpessoalmente, entre famílias, classes e até países.

Ricardo Ehrensperger Ramos

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